Descontínuo Reverso

Fotografia: Chema Madoz (Espanha, 1958).

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Imagem

Foto: Paul Strandt (Estados Unidos, 1890-1976). Window, Daliburgh.


A casa. A porta lateral está aberta. O ar é denso do silêncio povoado. O calor e os rumores do meio do ermo. É cortante o ranger dos bambus gigantes. Eles ladeiam a casa. Dentro é escuro, úmido, frio. Cheira a madeira molhada. Sempre. A cozinha é quase toda a casa. A mesa grande. As cadeiras descompostas pelo espaço. Utensílios. Livros abertos e fechados. Os pratos sujos. Panos. Óculos. Frutas. As flores apanhadas. Partes do silêncio. E também o arrastar da escova nos cabelos. Ele está em pé, atrás dela que está sentada muito ereta num banco, e lhe penteia os cabelos. Grave. Ela se move involuntária. O puxar que a escova lhe inflige ao pescoço. Não dizem nada. Bem à frente dela, uma janela pequena aberta de par em par. A mata no horizonte se revira com a ventania. Acompanha o cinza escuro da tempestade que chega. Ela quase não respira. É calmo o olhar que vê a aproximação da tempestade. É ainda curioso e encantado. O mesmo olhar que vê a cena vivida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Se é Bergman, já não sei. A cena tão bergmanmente narrada, é uma lembrança que não me pertence mas é como se fosse, de leve, de longe, parte do meu pasado, como se conhecesse também, tão bem, as personagens que atuam.