Descontínuo Reverso

Fotografia: Chema Madoz (Espanha, 1958).

domingo, 27 de janeiro de 2008

Interior 5

Foto: Priscila Miraz. Encontro de Bandeiras. Folia de Reis, Assis, 2008.

O ar é cortado pelas fitas coloridas balançantes das violas. Ói o respeito, minino! E o menino cansado beija outra Bandeira. Qui deus ti bençoa, fiu, ri a Alferes da Bandeira acarinhando a cabeça da criança. As Companhias se apresentam e contam de um deserto palestino os lamentos, prolongados pela terceira voz, de um sertão americano. São muitos e variados nas cores, os três descendentes de Noé. E o dia é todo pedidos e agradecimentos. Os palhaços transitam livres pelas máscaras e pela pinga. Dançam batendo os pés e lutam com as espadas de madeira chacoalhando os embornais, tilintando as moedas. Moedinha pro paiaço, madrinha! As moedas rodam pelo chão e as botinas pisam duro, empurram, ganham e perdem na brincadeira. Ói madrinha, diz só o nome qué preu gravá qui no coração. E andando entre eles, que posam tão prontamente pra câmera, que se ritmam pelos bandolins, violas, violinos, sanfonas, pandeiros, fitas, imagens, bordados, flores de cores intensas e de plástico, que bebem e abençoam, descansam nas sombras das árvores o cansaço da festa que é trabalho e devoção, se entende que a melancolia e o lamento podem ser de uma particular alegria.

2 comentários:

Anônimo disse...

O ato da festa caipira,da festa que é cor, que é movimento, não tem como nos dizer de primeira leitura que é obra impressionista. Mas a capacidade que tudo aquilo tem de nos pôr em contemplação é tão gigantesco, tão performático, que em nosso gesto narrativo não daríamos conta de alinhar um texto com jeitos "pós-modernos". E aí nos entregamos às pinceladas, tão pequeninas,tão cheias de luz e tão íntimas que não haveria como nosso texto não se tomado de um impressionismo.

"Interior 5"... Foi minha dose-prenda de folia embalada em sensibillidade recebida nesta manhã de 29 de janeiro. (Elinaldo Meira)

priscila miraz disse...

muito grad'cida, seu elinaldo!