Descontínuo Reverso

Fotografia: Chema Madoz (Espanha, 1958).

domingo, 16 de dezembro de 2007

Capital

Foto: Berenice Abbott (Estados Unidos, 1898-1991). Court of the First Model Tenement, 1936.
Depois do segundo metrô os rostos são ilusões de familiaridade que não se cumprimenta: espreita e imagina. Não ignora. Os mais à vontade detém o domínio da conveniência do cinismo. Mas não se ignora. É sofrido nos ombros, nos joelhos, no pescoço, nos punhos, nos tornozelos, nas falanges, esse reconhecimento, esse desdobramento. Depois desce na estação da Sé. O mundo desce na estação da Sé. Sem perceber já se está trincando no gosto, no tempo, na vontade. Trinca que desenha um rio no concreto. Abala a resistência à cidade, e não sabemos o que foi. O que aconteceu. Depois já é tarde demais. Já fomos inundados quando percebemos num assombro como é triste a agonia de um rio. Fugindo, aquela era a vida fendida abalada fornicada culpada prenhe. O barco repintado de branco e vermelho jogado nas margens do Tietê é acompanhado dos descuidos. E de repente é silêncio e paralisia na marginal do Tietê. É o silêncio de dentro daquele barco escuro, o silêncio impossível despregado da camada de tinta tão grossa que se pressente, a sua espessura. Todo mundo olha e a membrana de casas amontoadas estica maleável sua promessa de continuidade. A membrana tensiona e não saímos nunca. Não saímos mais. A cidade é feita das belezas obstruídas. A cidade comove. A cidade dói. A cidade é feia das belezas obstruídas, a cidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

1- Genial textualidade. Faz da palavra, crônica; dá mais vida ao que seria passageiro.

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Outro causo... Agora quanto à mensagem que me postou:

Pôxa Vida! Que bela Surpresa!... Que bela surpresa!

De fato não a cheguei a conhecê-la Priscila, não deu tempo, pois fui embora antes de Assis, quando me mudei para Ribeirão Preto no final de 2000. Vc não tem idéia do quanto é bom ouvir o nome do Rui aqui em casa, logo hj pela manhã de uma segunda-feira, pois tanto eu quanto Mila, minha companheira, gostavamos por demais deste figura (ô, saudade! deix'está...) Vamos sim, nos linkar neste mundo digital, e se possível ao vivo quando for aí em Assis visitar uns amigos (se vc estiver em Assis, é claro). Posso te fazer um pedido? Vc me mandaria uma foto de Igor, eu nunca o vi. Tenha certeza q será guardada com muito, muito carinho por mim e por Mila.

De coração, abraço. Obrigado Priscila pelo contato, muito bem vindo!

Elinaldo (elinaldomeira@gmail.com)

Unknown disse...

Priprioca! Adorei seu texto cheio de sensações!! Descrição de São Paulo com a sensibilidade de uma assisense!