Descontínuo Reverso

Fotografia: Chema Madoz (Espanha, 1958).

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dois dias na semana


Geraldo de Barros (Brasil, 1923 – 1998). Cemitério do Tatuapé.

Não existe presente na cidade com o rio.
É um suspenso aerado, pedra pomes.
É o frio de sob superfície, o peso da mão na garganta.
O ar que sabe mais de cupins que de pássaros e peixes.
Os pássaros são mais do chão que do ar
Os pássaros acomodados e cheios de piolhos
da praça cheia de árvores, da cidade com o rio.
A cidade hostil a mim e a minha vida,
Enfurnada em sua existência circunspecta.
Essa cidade fechada em seus habitantes
que são as pedras dos barrancos,
as subidas íngremes das suas ruas.

São pontilhados os detalhes da palavra falada,
A palavra-argila da cidade com rio,
que só se sabe com o rio quando o avista na margem:
Seca e dura a cidade com o rio
E o que eu faço aqui é o que penso enquanto pego no sono,
o sono sempre tumultuado nas noites que não dormem,
Nas noites cheias de cães,
de latidos de cães, de ganidos de cães,
que são os habitantes perpétuos da cidade com o rio.

6 comentários:

Fer disse...

eis que se faz a função da arte, feita e refeita, criar carne viva de cidade de ingente tristeza...
Beijo, linda... linda

priscila miraz disse...

ô fefe! que bom receber seu cometário. sabe como é importante pra mim, querido!

Fabrício Brandão disse...

É fascinante a ideia contida nesse sentimento das cidades. Belo texto!

Obrigado por colaborar com a Revista Diversos Afins!

Beijos

priscila miraz disse...

oi fabrício, seja bem vindo! fico conente em saber que gostou do texto. e sou eu quem agradece a participação na diversos afins. gostei muito da revista!
beijos

Pedro Reis Lima disse...

Gostei muito, me fez lembrar de alguns versos do "Cao sem plumas" do Joao Cabral de Mello Neto. Eu tenho uma pergunta: O tamanho dos seus versos é ditado pelo tamanho da "moldura" do blog ou vc faz os versos do tamanho que quer e depois os enquadra ? Eu pergunto pois as vezes acho que eles ficam um tanto "espremidos" e nao sei se é intencional ou nao. Um grande beijo. Pedro.

priscila miraz disse...

pedro predo,
muito lisongeira a comparação. joão cabral é um poeta querido-favorito.
isso do blog fica mesmo estranho. mas do jeito dele, respeita sim, o tamanho dos versos. mas faz isso com pouca folga, o que dá mesmo a sensação de asfixia da palvra no espaço. talvez, com mais tempo, mude outra vez a cinfiguração do blog.
beijos e beijos