Descontínuo Reverso

Fotografia: Chema Madoz (Espanha, 1958).

segunda-feira, 17 de março de 2008

Jonas na tarde

Foto: Walker Evans (Estados Unidos, 1903-1975). Kitchen Wall in Bud Fields House, Hale County, Alabama 1936.
Leia o conto inteiro na revista Germina: http://www.germinaliteratura.com.br/2008/priscila_miraz.htm

A mulher pagou os cinco cruzeiros pela galinha depenada e foi com ela balançando ao lado do corpo, descendo a rua de cenho fechado, envergando um vestido desbotado e uma tristeza recurva. Jonas menino ficou ali no calor da rua vazia querendo descansar. Só não sabia que era mais das amarguras do que da caminhada diária da venda das aves que criava. Via lá no fundo dos olhos a camisa de brancura que o pai usava quando ia ficar fora por muito tempo. No fundo dos olhos fechados, a camisa branca do pai luzia de luz emprestada, porque o pai era fosco. Queria saber de onde vinha a luz que o pai refletia. Achava mesmo que ele tinha pele esverdeada. E tinha raiva porque esse pai voltava e o expulsava do lugar que era dele. Mas um dia ele ia ter o tamanho de homem e ia ser forte.

2 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

De todas as histórias contadas, recontadas e eternamente fixadas nas nossas memórias de terra... tinha que ser você para transformá-las em poesia!

Mana!