
Geraldo de Barros (Brasil, 1923 – 1998). Cemitério do Tatuapé.
Não existe presente na cidade com o rio.
É um suspenso aerado, pedra pomes.
É o frio de sob superfície, o peso da mão na garganta.
O ar que sabe mais de cupins que de pássaros e peixes.
Os pássaros são mais do chão que do ar
Os pássaros acomodados e cheios de piolhos
da praça cheia de árvores, da cidade com o rio.
A cidade hostil a mim e a minha vida,
Enfurnada em sua existência circunspecta.
Essa cidade fechada em seus habitantes
que são as pedras dos barrancos,
as subidas íngremes das suas ruas.
São pontilhados os detalhes da palavra falada,
A palavra-argila da cidade com rio,
que só se sabe com o rio quando o avista na margem:
Seca e dura a cidade com o rio
E o que eu faço aqui é o que penso enquanto pego no sono,
o sono sempre tumultuado nas noites que não dormem,
Nas noites cheias de cães,
de latidos de cães, de ganidos de cães,
que são os habitantes perpétuos da cidade com o rio.