
Pedro Polônio (Portugal). Saída, 2004.
Em frente a casa o sol pica cega arde. As senhoras de sombrinha sobem pelas pedras do calçamento lentas, joelhos subindo alto o passo, suspiros resignados em contraponto aos de impaciência das crianças que voltam da escola. No meio fio a água da limpeza da casa vizinha escorre pro rio sua velocidade brilhante. Da fumaça do meu cigarro as árvores da praça parecem tão pintadas quanto as paisagens do Brasil império. Pé ante pé os sons da vida se ajeitam num guardado de pensamento. Já não tenho língua com palavras a desenrolar. Tenho uma luz, um vento com cheiro. E uma distância imensa que aproxima quando sou.